26 junho 2006

Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

Autoria: Mário de Sá-Carneiro
www.astormentas.com

3 Comments:

At 12:57 PM, Blogger André Gondim said...

Só faltou Eurídice

Abração!!

 
At 10:37 PM, Anonymous Anônimo said...

Felicidade é poder usar versos em legítima defesa. Lindo!

 
At 6:39 PM, Anonymous Anônimo said...

cantar... estes versos são lindos...


te beijo

Nefertari

 

Postar um comentário

<< Home