28 março 2006

Ausência

Encontrou-me ao avesso e seminu.
Cheio de desejos, extremismos e juventude.

Entregou-se à minha tempestade de euforia.
Construiu a nossa história no lugar da minha.

Alterou meus objetivos, curou meus preconceitos,
Corrigiu e consolidou alguns princípios.

Depois que tudo estava pronto, despediu-se.
Com ares de dever cumprido.

Vianna

27 março 2006

Resgate

Saudade do piercing na língua,
do cabelo branco, ora vermelho,
constrastante com meu peito fechado.
Da pele clara,
paralela à minha descendência negra.

O samba do meu amor não teve o ritmo do meu prata.
Garimpei sem ver a presença de um brilhante.
Achei! Um sentimento forte com um brilho longínquo.
No qual ainda procuro minha felicidade.

24 março 2006

Nomes

Crônica de Mário Prata
www.marioprataonline.com.br


Outro dia fui comprar um abajur. A mocinha me olhou e perguntou:

- Luminária?

Eu olhei em volta, tinha uma porção de abajur. Não, abajur mesmo, eu disse.

- De teto?

Fiquei olhando meio pasmo para a vendedora, para o teto, para a rua. Ou eu estava muito velho ou ela estava muito nova. No meu tempo - e isso faz pouco tempo -, o abajur a gente punha no criado-mudo, na mesinha da sala. E lá em cima era lustre.

- Lustre?

Descobri que agora é tudo luminária. Passou por spot, virou luminária. Pra mim isso é pior que bandeirinha virar auxiliar de arbitragem e passe (no futebol) chamar-se - agora - assistência.

Quem são os idiotas que ficam o dia inteiro pensando nessas coisas? Mudar o nome das coisas? Por que eles não mudam o próprio nome? A mocinha-da-luminária, por exemplo, se chamava Mariclaire. Desconfio até que já tivesse mudado de nome. Pra que mudar o nome das coisas? Eu moro numa rua que se chama Rodovia Tertuliano de Brito Xavier. Sabe como se chamava antes?

Caminho do Rei. Pode? Pode. Coisa de vereador com michoca na cabeça e tio para homenagear. Mas lustres e abajur, gente, é demais.

Programação de televisão virou grade. Deve ser para prender o espectador mais desavisado. Entrega em domicílio virou delivery. Agenda de correio, mailing.

São os publicitários, os agentes de 'marquetingui'? Quer coisa mais bonita do que criado-mudo? Existe nome melhor para aquilo? Pois agora as lojas vendem mesa-de-apoio. Considerando-se a estratégica posição ao lado da cama, posso até imaginar para que tipo de apoio serve.

Antigamente virava-se santo. Agora vira-se beato, como se já não bastassem todas as carolas beatas que temos por aí. Mudar o nome de deputado para putado ninguém tem coragem, né? Nem de senador para sonhador. Sonhadores da República, não soa bem? E uma bancada de putados? A turma dos dez por cento agora se chama lobista. E a palavra não vem de lobo. Mas parece.

E por que é que agora as aeromoças não querem mais ser chamadas assim? Agora são comissárias. Não entendo: a palavra comissária vem de comissão, não é?

Aeromoça é tão bom e terno como criado-mudo. Pior se as aeromoças virassem moças-de-apoio. Taí uma idéia.

E tem umas palavras que surgem de repente do nada. Quer ver?: luau. Isso é novo. Quando eu era jovem, se alguém falasse essa palavra ou fosse participar de um luau, era olhado meio de lado. Era pior que tomar vinho rosê. Coisa de bicha, isso de luau.

Mas a vantagem de ser um pouco mais velho é saber que o computador que hoje todo mundo tem em casa e que na intimidade é chamado de micro, nasceu com o nome de cérebro-eletrônico. Sabia dessa? E sabia que o primeiro computador, perdão cérebro-eletrônico, pesava 14 toneladas? E que, na inauguração do primeiro, os gênios da época diziam que até o final do século, se poderia fazer computadores de apenas uma tonelada?

E você sabe o que é dentifrício?

Outra palavrinha nova é stress. Pode ter certeza, minha jovem, que, antes de inventarem a palavra, quase ninguém tinha stress. Mais ou menos como a TPM.

Se a palavra está aí a gente tem de sofrer com ela, não é mesmo? No meu tempo o máximo que a gente ficava era de saco cheio. Estressado, só a turma do luau.

E agora me diga: por que é que em algumas casas existe jardim de inverno e não jardim de verão?

E, se você quiser mudar o nome desta crônica para lingüiça, pode. Desde que coloque o devido trema. Também conhecido como dois pinguinhos.

23 março 2006

Nada perdi na minha vida.
As coisas que quis e não tive,
ou em verdade não queria,
ou foram guardadas como objetivos futuros.
O que tive e sinto falta, não se caracterizam perdas.
São aprendizados.
Lembranças? Perda de tempo.

Desculpe se chegou ao final.
Inícios são mágicos, mas não deixam as lembranças
do desfecho de um grande amor.
Esses são dolorosos e produtivos na construção
de novos pontos de partida.
Inevitavelmente serão esquecidos
ao dar espaço para a constante construção
do que um dia será uma grande história.

Vianna
17/11/05
Alterado em 23/03/2006

22 março 2006

Dica!!

A Beatriz, em uma folguinha da monografia, está publicando uma revista eletrônica: a Palavril. Vale a pena visitar.

http://palavril.blogspot.com(sem www)

"Voltada para poesias, contos, crônicas, fotografias, artes plásticas...com intuito de criar um espaço de visibilidade para nós artistas, para todos aqueles que estejam pensando e fazendo arte de alguma forma!!!.
Que a Palavril contribua na interação/integração de artistas, linguagens, núcleos que muitas vezes ainda atuam de forma isolada, que seja um espaço instigante para a arte e cultura, um lugar onde se faça, se pense, se construa em conjunto, promovendo a coisa comum, plural!!!"

Beatriz Tavares
http://www.numanoitequalquer.blogspot.com/

21 março 2006

Da Cor do Mar

És filha da noite,
Reflexo de cores,
Retrato de amantes.
Atrais olhares pelo teu descaso.
Defesa ou insegurança...
Não importa.
És tu.
Simples e bela.
És filha da cor.

Vianna
08/03/2006

20 março 2006

Saudade

Em momentos de felicidade, quando alguns objetivos são alcançados, que saudade me dá...

Espelho

Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz

Ê vida boa, quanto tempo faz
Que felicidade
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai

Um dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
Me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Ê vida à toa, vai no tempo, vai
Eu sem ter maldade
Na inocência de crianca de tão pouca idade
Troque de mal com Deus por me levar meu pai

Assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambam da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já

Ê vida voa, vai no tempo, vai
Ah, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai

Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso

E o meu medo maior é o espelho se quebrar


João Nogueira

16 março 2006

Complemento de Afrodite

Gosto de mulheres estranhas.
Se eu soubesse desenhar,
traçava teu nariz pontiagudo,
tuas costas de ossos salientes,
teus cabelos que forma não tem.

Acaricio no ar tuas pernas
esguias e arqueadas.
Me enamoro pelos teus olhos.
Lindos, verdes, profundos e
vesgos...

Adoro mulheres estranhas.
Mulheres ao avesso, com todas
as reações que não espero.

E nesse desejo particular,
procuro o complemento
lógico de Afrodite.

Vianna

14 março 2006

Salve Vinicius!!

No Dia da Poesia ninguém melhor para citar do que o poeta que mais me inspira. O poeta que soube sofrer rindo. Nas letras de Vinicius aprendi que tirar proveito de um momento triste não é demagogia, que reclusão não é falta de opção.

Ao som de Vinicius penso na gente humilde, penso em minha gente, suplico para seres minha namorada - Ah, que linda namorada você poderia ser .

Com ele, vi um grande amor só ser efetivamente grande quando triste e, depois de falar com um astronauta, entendi porque é bom morar no azul.


Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

Vinicius de Moraes
Nova York, 1950

13 março 2006

Te ter por não querer

Tá na hora de dar reviravolta
Esquecer a história morta
Não te ter, nem te querer

Noite de luar tão esquecido
De manhãs tão mal dormidas
Da vida o que vou ser?

Ah! Da vida o que vou ser?
Vou ser a minha e tua
Vou ser história nua
Vou te ter por não querer

Pra não te ter eu vou pra rua
Vou viver a rosa em lua
Vou te ter por não querer

Vianna

09 março 2006

Nem cifra, nem partitura. O que eu quero é música!

O ouvido do leigo
é a mais pura visão da arte.
O admirador não vê dissonantes,
apenas vibra com Dós e Rés
de uma melodia simples
e completa.

Venha com dedilhados,
mas não coloque burocracia
na minha música.

A tua técnica não me importa.
Quero somente sentir meu dia
na tua canção.
Desaguar minhas lágrimas
em seis cordas de fáceis cifras.
A sinfonia simplista explica o motivo de eu estar aqui.

Vianna

08 março 2006

Sou um músico preguiçoso.
Verbos me surgem,
melodias me faltam.
Será um tedioso Samurai a solução?

Não quero o simples,
mas não sei fazer o que admiro.
Vislumbro a contradição,
a antítese do que penso ser.

Quero falar o que nunca ouvi,
tocar o que jamais poderei sentir.
Quero tanto, tanto,
que jamais alcançarei.

Nossas angústias são nada mais
do que frutos de nossas paixões.
O que será um músico sem melodias?
Poeta.

Vianna

07 março 2006

Comemorações e Rememorações

Em minhas recentes lembranças
tenho comemorações e rememorações.
Na balança, não sei para que lado pende.
Porém, tudo é válido.
Nenhuma vivência é perdida.
Comemoro vitórias,
rememoro aprendizados.
Passaste pela minha vida
para deixar essas duas situações.
A tua perda?
Não sei se comemoro, rememoro
ou torço para esquecer.
Mas a tua conquista,
essa guardo com toda minha paixão.

Vianna

06 março 2006

Eu escrevo o que não penso,
Faço o que não quero,
Vivo o que tu não vives,
Me apaixono pelo que tu odeias.
Mas, enfim...

Morro e vibro por ti.
Sou o que tu imaginas e
não quer por perto.
Sou a caricatura do teu ideal,
com as imperfeições de um ser
que não é fantasioso e sim real.

Sou eu.
Forte ou fraco,
Sou carne, sou nuvem,
Gelo e fogo.
Sou um Vianna qualquer.

03 março 2006

Por onde é que eu saio?

Quando entrei na tua vida,
Não encontrei mais saída.

Brincos de estrela,
Olhos do brilho da lua.
Tens o sorriso obscuro
de um lagarto.

Ah! Noite endiabrada...

És a mulher mais bela
e o caminho mais tortuoso.
Labirinto sem fim, curvas
sinuosas e envolventes.

Noite que compõe minha vida,

Noite que coloca em dúvida meu futuro...

Bate a meia noite,
faltam poucas horas para acordar
(se é que vou dormir).

Quando a noite me aceita como companheiro,
caso e abraço seus braços.
Ponteiros, relógios,
caricaturas da responsabilidade.

Esqueço tudo!
Só enxergo o nebuloso horizonte noturno.
Nela, vejo o imediato.

Planos e objetivos?
Esqueça.
Na noite tudo se perde.

Vianna

02 março 2006

Cantada deveria ser como preservativo, para se utilizar uma única vez.

Fabrício Carpinejar
Coluna Completa