30 novembro 2005

Observador

Observador

Sempre quis te ver sozinha.
Tu e teu corpo.
A água caindo de longe,
as tuas mãos no caminho do teu pensamento.
Os dedos percorrendo o sentido do teu prazer.

As veias inflam e o coração acelera.
Estás livre e os teus devaneios
passeiam por vielas subversivas
e singelas de fantasias audazes.

A observação me enlouquece.

Teu corpo treme,
as feições do teu rosto se transformam.
Não consegues mais controlar os movimentos
involutários dos teus músculos.

Buscas com os olhos as fotografias
que só teu imaginário alcança.
Nenhum relato posterior evidenciará
as sensações de tuas fantasias.

Trêmula e rígida extravasas todo teu prazer em um suspiro.
Após contrações sucessivas a respiração acalma,
os músculos relaxam, as pálpebras caem.
Eu...observo.

Vianna

29 novembro 2005

Nada perdi na minha vida.
As coisas que quis e não tive,
ou em verdade não queria,
ou foram guardadas como objetivos futuros.
O que tive e sinto falta, não se caracterizam perdas.
São aprendizados.
Lembranças? Perda de tempo.

Vianna
17/11/05

28 novembro 2005

Poema do livro Biografia de uma árvore

Ouvidos de orvalho


Na eternidade, ninguém se julga eterno.
Aqui, nesta estada, penso que vou durar
além dos meus anos, que terei
outra chance de reaver o que não fiz.
Se perdoar é esquecer, me espera o pior:
serei esquecido quando redimido.

Não me perdoes, Deus. Não me esqueças.
O esquecimento jamais devolve seus reféns.

A claridade não se repete. A vida estala uma única vez.

O fogo é uma noz que não se quebra com as mãos.
A voz vem do fogo, que somente cresce se arremessado.
Não há como recuar depois de arder alto.
Fui lançado cedo demais às cinzas.

Somos reacionários no trajeto de volta.
Quando estava indo ao teu encontro,
arrisquei atalhos e travessas desconhecidas.
Acreditei que poderia sair pela entrada.
Ao retornar, não improviso.

Minha conversão é pelo medo,
orando de joelhos diante do revólver,
sem volver aos lados,
na dúvida se é de brinquedo ou de verdade.

O vento faz curva. Não mexo nos bolsos,
na pasta e na consciência,
nenhum gesto brusco de guitarra,
a ciência de uma mira
e o gatilho rodando próximo
do tambor dos dentes.

Derramado em Deus, junto meu desperdício.

Vou te extraviando no ato de nomear.
Melhor seria recuar no silêncio.

Cantamos em coro como animais da escureza.
Os cílios não germinaram.
Falta plantio em nossas bocas, vegetação nas unhas,
estampas e ervas no peito.
Suplicamos graves e agudos, espasmos e espanto,
compondo esquina com a noite.

Cantar não é desabafo,
mas puxar os sinos
além do nosso peso,
acordando a cúpula de pombas.

Somos fumaça e cera,
limo e telha,
névoa e leme.
O inverno nos inventou.

Não importa se te escuto
ou se explodes meus ouvidos de orvalho:
morre aquilo que não posso conversar?

Ficarei isolado e reduzido,
uma fotografia esvaziada de datas.
Os familiares tentarão decifrar quem fui
e o que prosperou do legado.
Haverei de ser um estranho no retrato
de olhos vivos em papel velho.

Escrevo para ser reescrito.
Ando no armazém da neblina, tenso,
sob ameaça do sol.
Masco folhas, provando o ar, a terra lavada.
Depois de morto, tudo pode ser lido.

Vejo degraus até no vôo.
Tua violência é a suavidade.
Não há queda mais funda
do que não ser o escolhido,
amargar o fim da fila,
ser o que fica para depois,
o que enumera os amigos
pelos obituários de jornal,
o que enterra e se retrai no desterro,
esfacela a rosa ao toque
na palidez das pétalas e velas,
vistoriando cada ruga
e infiltração de heras entre as veias,
nunca adulto para compreender.

Não há nada de natural na morte natural.
Divorciar-se do corpo, tremer ao segurar
as pernas, acomodar-se no finito
de uma cama e deitar com o tumulto
que vem de um túmulo vazio.

Fabrício Carpinejar
www.carpinejar.com.br

23 novembro 2005

Hoje não quero nomear poemas.
Talvez um dia não queira nomear filhos.

Sem nomes, terão números.
Como os ditos imperadores,
serão primeiro,
segundo,
ao décimo eu paro.

Retorno à democracia
e contrato um burocrata
para fazer o que não fiz.

Vianna
23/11/05

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Não discutirei política.
Abraçarei o boêmio que dança ao meu lado
e que de patético nada tem.

Esses olhos de censura
não mensuram a existência de uma noite.
A existência de um poeta
que de palavras nada sabe.

Mas que resistiu a uma vida
que poucos conhecem
e muitos almejam.

Vianna
23/11/05

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De uma letra faço um desenho.
Do teu rosto, faço a caricatura de um amanhecer.
Pinto temas, rascunho abraços.
Experimento o prazer do teu penar.

A lua resolveu passear
e escolheu o caminho errado.
Foi de encontro ao Sol,
sem saber que esbarraria na razão de seu brilhar.

Não resistiu ao calor expurgatório.
Retornou e redimiu-se,
brilhando eternamente.

Vianna
23/11/05

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Muito Prazer

Músico eu sou,
pois músico é quem sente,
quem se enamora com o dissonante.

A música constrói minha noite
e por vezes destrói meu dia.

Atraso em uma hora o relógio
e chego pontualmente ao meu compromisso.

Todos aguardam com olhos de quem não vive
e bradam em coro:
Quem bom que vieste!

Vianna
23/11/05

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Ângulo crítico

Nosso sentimento já foi material.
Não desse vil metal
do qual tantos se nutrem.
Mas da matéria da carne,
forte e mensurável.
Também foi químico.
Não uma simples mistura.
Mas um dipólo de atração inigualável.
Hoje é onda.
Transporta a energia da grandeza de tuas lembranças.
Porém, não é capaz de refratar
o vidro invisível e limitador que criamos.

Vianna
17/11/05


O ponto certo

Não vou emudecer às sombras de tuas lembranças.
Não vou cegar às margens do teu descaso.
O teu cinísmo que acalmara o meu sofrer
não será mais escutado pelo meu coração.
Como outrora, tocarei a tua nuca
e acabarei com a tua retidão.

Vianna
17/11/05

22 novembro 2005

Há algum tempo visito a Feira do Livro de Porto Alegre, literalmente visito, de jaleco e estetoscópio.

Esse ano, pela primeira vez apreciei esse grandioso evento. Passar de banca em banca, comparecer aos eventos paralelos, adquirir algumas publicações, enfim, viver alguns dias mergulhado em letras. Majestosa experiência.


Viva o livro!

Viva condenado à eternidade
Seja um clandestino na sua cidade
Apague um dragão, ganhe um milhão
Vire o salvador da humanidade

Conheça paixões enlouquecidas
Deite com princesas e doidas varridas
Invente um caminho, enfrente um moinho
Decifre medusas, musas e enigmas

Vença uma batalha, depois faça a paz
Venda sua alma, depois volte atrás
Encontre um fugitivo, o herói definitivo
Pra viver o livro basta estar vivo.


.

21 novembro 2005


O regionalismo consciente tem seu espaço!


Último Pedido

Se um dia a morte maleva
Me dá um pealo de cucharra
Numa saída de farra
Me faça torcer o alcatre
Me ajeitem bem sobre um catre
Me tirem os laço das garra

A morte é sorra mui mansa
Comedera de sovéu
Que vem, desarma o mundeo
A mandado do Senhor
Nos larga num corredor
E dá uma espantada pro céu

Me enterrem num campo aberto
Que eu sinta o vento pampeiro
Em vez de vela, um candeeiro
Ao pé da cruz falquejada
Que eu possa enxergar a estrada
Por onde passa o tropeiro

Depois me deixem solito
Sobre o fraldão da coxilha
Junto ao pé da coronilha
Entre a mangueira e a tapera
Na “estância da primavera”
Coberto pela flexilha

Que eu ouça o berro do gado
De uma tropa em pastoreio
Ouça o barulho do freio
E o gaguejar das cordeonas
E retouços de redomonas
No chapadão do rodeio

Que eu sinta o cheiro da terra
Molhada da chuva em manga
Sinta o cheiro da pitanga
No barracão do pesqueiro
E o canto do joão-barreiro
Trazendo barro da sanga

Vou me juntar lá no céu
Onde só Deus bate asa
Não quero dar oh! de casa
Que a porta grande se tranque
Que me espere no palanque
Churrasco gordo na brasa

Vou viver na Estância Grande
Deste Patrão Soberano
Levar comigo o minuano
Pro rancho de algum posteiro
E pedir pra ficar lindeiro
Com o imortal Aureliano

Mas se lá não tiver carreira
Nem marcação campo a fora
Nem índio arrastando espora
Num jogo-de-osso em domingo
Eu quebro o cacho do pingo
E juro que venho embora

Poema de João da Cunha Vargas
Musicado por Vitor Ramil

20 novembro 2005

benditas malditas


se um homem escreve um texto, ele é um escritor.

se um homem fala um texto, andando de um lado pro outro, ele é um ator

se um homem canta um texto, ele é um cantor.

se um homem fala um texto no rítmo, ele é um rapper.

se um homem fala um texto, ele é um homem que fala um texto e ponto


o que acaba com a poesia é o que acaba com o amor.

são palavras cercadas de sentidos sinuosos.

são como o nome de deus: nasceram para serem amadas

não para serem ditas.


chacal = 21 / 10 / 05
chacalog.zip.net

19 novembro 2005

PRALARVAS

O que fica
da vida
vivida
pro amanhã?

Trabalho pra larvas.

Fabio Rocha
www.fabiorocha.com.br

Além de gostar de ler poemas ( e arriscar na criação ), despertou-me a curiosidade de explorar a técnica literária que envolve esse tema.

Para começar, resolvi sanar uma dúvida inquietante:

Qual a diferença entre Poema e Poesia?

Em uma rápida pesquisa no Google, localizei algumas definições. Segue a que mais me chamou a atenção.

BRASIL, Assis. Vocabulário técnico de literatura. São Paulo: Tecnoprint, 1979

"Poema é o ´objeto` poético, o texto onde a poesia se realiza, é uma forma, como o soneto que tem dois quartetos e dois tercetos, ou quatorze versos juntos, como é conhecido o soneto inglês. Um poema seria distinto de um texto ou estrofes. Quando essa nomenclatura definitiva é eliminada, passando um texto a ser apresentado em forma de linhas corridas, como usualmente se conhece a prosa, então se pode falar em poema-em-prosa, desde que tal texto (numa identificação sumária e mecânica) apresente um mundo mais ´poético` ou seja, mais expressivo, menos referente à realidade. A distinção se torna por vezes complexa. (...) a poesia pode estar presente quer no poema que é feito com um certo número de versos, quer num texto em prosa, este adquirindo a qualidade poema-em-prosa".

Já poesia, Assis Brasil define como:

"(...) uma manifestação cultural, criativa, expressiva do homem. Não se trata de um ´estado emotivo`, do deslumbre de um pôr-do-sol ou de uma dor-de-cotovelo; é muito mais do que isso, é uma forma de conhecimento intuitivo, nunca podendo ser confundido o termo poesia com outro correlato: o poema".


O artigo completo pode ser visto no endereço abaixo.

http://www.sobresites.com/poesia/artigos/poema.htm

18 novembro 2005

Resgate

Saudade do piercing na língua,
do cabelo branco, ora vermelho,
constrastante com meu peito fechado,
da pele clara,
paralela à minha descendência negra.

O samba do meu amor não teve o ritmo do meu prata.
Garimpei sem ver a presença de um brilhante.
Achei! Um sentimento forte com um brilho longínquo.
No qual ainda procuro minha felicidade.

Vianna
18/11/2005

Contribuição de um amigo....


Não sei

sasasasaNão...
Não sei quais foram os sentimentos do passado,
pois não os conheci,
portanto, nem sei se realmente existiram.

Creio que eles tenham sido como bons incensos
que duram por um tempo,
mas desde o início já é previsto o seu fim.
Hoje restam apenas leves lembranças,
ou cinzas esquecidas no tempo.

De minha parte eu sei,
que esse incenso se transformou num ciclo,
sem fim e muito menos início,
algo que nunca irei compreender,
acostumar e muito menos esquecer...

Rafael

17 novembro 2005

Quatro horas na presença do Prof Darcy, escutando Chico, Noel, Cartola entre outros são memoráveis momentos de inspiração e transpiração de sentimentos, os meus extravaso a caneta e papel.

Se quiserem saber do que falo:
São Jorge e o Dragão
Boa música e cerveja gelada.
Rua Sofia Velozo, 61.

Eis o resultado...

Inquilinato

O vento foi substituído pela vibração do violão.
A chuva, pela energia do pandeiro.
E você meu amor? Não há equiparação,
mas uma inquilina chamada saudade.

Vianna

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Intérprete

Meu poema é preocupado com palavras.
Desse jeito vai morrer do coração.
Enfarto!!
Deixa disso caro amigo. Use as palavras mais grosseiras
e expresse os sentimentos mais simples.
Leitores? Que leitores?
Exista por ti e fale por mim.

Vianna

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De Vinícius a Quintana

Até quatro toca meu pandeiro.
Em um certo dia quatro te fiz sorrir e cantar aos quatro ventos.
Tantas quadras controem nossa história.
Por que tens que seguir a regra três?
Se o perdão também cansa, não canse de lembrar,
pois não canso de tentar te esquecer.

Vianna

16 novembro 2005

A Verdadeira Liberdade do Homem

Nunca acreditei que a liberdade do homem consiste em fazer o que quer, mas sim em nunca fazer o que não quer, e foi essa liberdade que sempre reclamei, que muitas vezes conservei, e me tornou mais escandaloso aos olhos dos meus contemporâneos. Porque eles, activos, inquietos, ambiciosos, detestando a liberdade nos outros e não a querendo para si próprios, desde que por vezes façam a sua vontade, ou melhor, desde que dominem a de outrem, obrigam-se durante toda a sua vida a fazer o que lhes repugna, e não descuram todo e qualquer servilismo que lhes permita dominar.

Jean-Jacques Rousseau, in 'Os Devaneios do Caminhante Solitário'

15 novembro 2005

A Felicidade

A felicidade é um estado permanente que não parece ter sido feito, aqui na terra, para o homem. Na terra, tudo vive num fluxo contínuo que não permite que coisa alguma assuma uma forma constante. Tudo muda à nossa volta. Nós próprios também mudamos e ninguém pode estar certo de amar amanhã aquilo que hoje ama. É por isso que todos os nossos projectos de felicidade nesta vida são quimeras.
Aproveitemos a alegria do espírito quando a possuímos; evitemos afastá-la por nossa culpa, mas não façamos projectos para a conservar, porque esses projectos são meras loucuras. Vi poucos homens felizes, talvez nenhum; mas vi muitas vezes corações contentes e de todos os objectos que me impressionaram foi esse o que mais me satisfez. Creio que se trata de uma consequência natural do poder das sensações sobre os meus sentimentos. A felicidade não tem sinais exteriores; para a conhecer seria necessário ler no coração do homem feliz; mas a alegria lê-se nos olhos, no porte, no sotaque, no modo de andar, e parece comunicar-se a quem dela se apercebe. Existirá algum prazer mais doce do que ver um povo entregar-se à alegria num dia festivo, e todos os corações desabrocharem aos raios expansivos do prazer que passa, rápida mas intensamente, através das nuvens da vida?

Jean-Jacques Rousseau, in 'Os Devaneios do Caminhante Solitário'

14 novembro 2005

Terezinha


O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e assustada, eu disse não

O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada, e assustada, eu disse não

O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração

Chico Buarque

13 novembro 2005

Poliglota

Línguas estranhas não vão te fazer
entender a simplicidade de um verbo.
O verbo que te fez amar, viver, sofrer e morrer.
Que vale te fazer entender por muitos,
se não entendes a ti mesma?
Comece por desbravar as letras do teu coração,
então compreenderás o quão simples é viver só.

Vianna

11 novembro 2005

7 Letras a 27 graus

Liberte-se dessa
Guerra Fria. Troque
escudos por
músicas.
Atacar nem defender.
Se ninguém soube
como fazer-te feliz, seja feliz por ti mesma.

Vianna

o beijo

todo mundo precisa de beijo
o ascensorista a vitrinista
a judoca o playboy
o zagueiro o bombeiro o hidrante

o hidrante precisa também
de cuidados água farta
analgésicos e dinheiro

todo mundo precisa de dinheiro
o maracanã o pavilhão de são cristóvão
o cristo a pedra da gávea os dois irmãos
quem não precisa de dinheiro ?
todo mundo precisa de beijo

Chacal
chacalog.zip.net

10 novembro 2005

DO AMOROSO ESQUECIMENTO

Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Mário Quintana (Espelho Mágico)



09 novembro 2005


Após algumas sugestões, vou transformar meu pequeno site em um blog. Da mesma forma que posto textos lá, postarei aqui. A diferença será a interatividade.

Aos poucos vou repassando para cá o conteúdo do site antigo, junto com novos textos.

Quem quiser contribuir é só mandar...

Para começar escolhi um poema do Ricardo Reis (heterônimo do Fernando Pessoa).

Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Ricardo Reis


Para quem não conhecia o site antigo, o endereço é http://paginas.terra.com.br/arte/vianna

[]s
Vianna